quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sonho


Flutuo. Me lanço na imensidão colorida de um céu. Ao redor, estrelas de cinco pontas e cometas brilhantes. Me sinto leve, seguro. Aterrisso em um planeta de lugares nunca antes visitados, mas, por incrível que pareça, não me são de todo estranhos. Me deparo com pessoas conhecidas em situações inusitadas. Corro do ladrão, pulo uma montanha, faço o gol, me transporto de um lugar a outro como num piscar de olhos. Tudo é surreal, mas levo tudo a sério. Parece até um filme. Me vejo, interajo, dirijo. O roteiro é improvisado, mas a produção não mede esforços pra tornar tudo possível. Em meio à ação, surge a mesma melodia do alarme do meu celular. Desperto. Hoje não é feriado...
Todo dia uma aventura pra espantar a monotonia.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Ego


Um inimigo sorrateiro acampa dentro de você: o ego. Raiou o dia, saiu à caça. A fome faz ele correr tão rápido que é difícil acompanhar, mas deixa rastro. Quer aprovação, quer aplauso, quer o palco, apertos de mãos. Almeja o lugar mais alto do pódio. Fica tão excitado com a vitória que se esquece do resto. Quando se sente ameaçado ataca, tem sempre a espada empunhada para agir por instinto. Quando ferido, sangra e clama por compaixão. Alimenta-se de orgulho e utiliza a soberba como cobertor. Seu prazer é ostentar e a vanglória é sua amiga, mas de vez em quando gosta de passear com a falsa modéstia.
O que fazer para vencê-lo? Adianto que sua perspicácia torna impossível sua captura. É necessário sufocá-lo, deixar que sucumba de fome e frio até o ponto de se ver obrigado a se refugiar em uma caverna qualquer. Sei que essa é uma batalha dolorosa na qual seu alvo é você mesmo, mas no final das contas... quem perder sua vida vai achar.

"Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos" (Romanos 12:16)

segunda-feira, 23 de março de 2009

Soberania


Por que me desespero tanto? Até parece que estou mergulhado em um mundo caótico, onde os fatos acontecem assim, sem mais nem menos, numa sucessão desordenada. Observo a reação das ações mais inusitadas e temo. O medo me cega e não me deixa enxergar o que parece tão óbvio – o mundo está em Suas mãos. Gira a Terra ao redor de seu eixo como um peão que não vacila e nem perde energia. Descortina no céu galáxias recheadas de astros que me revelam a dimensão de minha insignificância. Promove uma série de explosões nucleares pra que esses raios solares aqueçam meus ombros. A chuva cai, o vento sopra, a semente brota, fotossíntese, mitoses e meioses, tudo conspira para que isso continue: a vida!
Então, por que me desespero tanto? As circunstâncias me fogem ao controle, estão além do que eu posso alcançar com a força dos meus braços. Olho ao redor e me vejo náufrago... e temo. Para onde foram todas as certezas? Parecem fugir de mim. Eu corro e não alcanço, me esforço, canso e finalmente paro pra pensar: por que me desespero tanto? Minha vida está em Suas mãos. Não há razão no meu medo, não há sentido na insegurança. Sou uma criança que chora em um castelo cercado por tropas palacianas, inatingível. Penso em tanta coisa que me esqueço do descanso...

“Nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Efesios 1:11)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Quem é Você?



Quem é você? Hoje Paulo, amanhã Apolo. Sempre apoiado no legado de alguém. Colcha retalhada de idéias e experiências, fruto da observação, das tentativas e erros. Se acha original e autêntico... pelo menos foi a coluna que marcou no seu teste vocacional. Sorri quase sem querer um sorriso frouxo. Se esforça para conseguir aprovação. Sonha sonhos não patenteados por outros tantos. Seleciona e reproduz interesse, destila conceitos. Ouve e retêm. Ouve e despreza. Inventa a roda enquanto dirige pela via central da cidade. Cava buracos fundos e rasos para depois tapá-los. Tudo faz para estar em movimento, e no movimento em si não encontra muito significado, mas prefere não perder tempo, está muito ocupado em produzir tempo perdido. É redundante. Soa indistinto. É um artista. No guarda-roupa os diversos personagens. Toma um banho, põe a veste, toma forma. Um imitador. Reprodutor de uma história cíclica. É uma releitura que se perde no decorrer da representação. Erra ao não fitar os olhos em quem é capaz de norteá-lo rumo ao final feliz. Parece um estranho, mas tenho o prazer de lhe apresentar: você.
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1 Coríntios 11:1)

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Espelho

Eu I Eu
me I me
vejo I vejo
como l como
sou l sou
Pecado l Pecado
Incomodo l Incomodo
e l e
vou depressa...

“Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural; pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência. Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que realizar.” (Tiago 1:23,25)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Palavras

- Escolha as palavras certas. Ser propício pode te levar longe. A sua língua tem o poder de te transportar a lugares inimagináveis, é capaz de mudar situações, criar empatia ou contenda. No coração, a fonte. Palavras sem ele expressam simples aparência (uma maneira cordial de dizer mentira). Maneira cordial? E as palavras são capazes de suavizar até mesmo coisas repugnantes como essa. Ledo engano... Às vezes falamos sem pensar, as frases parecem brotar dos lábios, e assim não conseguimos cerrá-los em tempo hábil. Ferimos pessoas que amamos e criamos ambientes hostis onde a tensão faz o coração pulsar e nos coloca em contato com os nosso sentimentos mais instintivos. As palavras são aptas para nos catalogar em função da maneira como as usamos. Encontramos os calados, os eloqüentes, os objetivos, os irreverentes, e tantos outros que se me delongasse a descrevê-los seria bem-vindo ao grupo dos prolixos. Como um pequeno leme que conduz um grande barco, assim é como nossa língua é metaforicamente descrita pela palavra. No silêncio há sabedoria. Cale, pense, fale. É necessário ter responsabilidade, pois a palavra é como uma flecha lançada, já dizia algum chinês. Na mente um enorme acervo adquirido ao longo da vida, utilizá-lo convenientemente é uma virtude: sensatez. Devemos ser lúcidos, devemos agir prudentemente, lutar para que nossas palavras sejam bálsamo para o nosso próximo e que venhamos a nos tornar como o sândalo que perfuma o machado que o fere. Você ia dizendo?
- Deixa pra lá.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O Altruísta

Hoje chove, máxima de 12 ºC nessa metrópole. Ele saiu de casa bem cedo, o guarda-chuva ainda no plástico, fazia tempo que não esfriava tanto. O bom-dia no elevador incomoda o receptor, mas ele é mesmo assim, gentil.
- Olá, tudo bem?
A pergunta é realmente interessada, mas a resposta sempre displicente retorna:
- Tudo, e você?
E se vai. Não há tempo para diálogos, mas também não é preciso ser rude, essas frases prontas são boas saídas pra essas situações corriqueiras. E tudo segue nesse ritmo mecânico, o cotidiano parece tão frio, mas ele segue desafiando o mundo num belo contraste promovido pelo amor. E o que é o amor? Engraçado é ouvir essa pergunta, provoca uma sensação de déjà vu. Definir é complicado porque corremos o risco de sermos simplistas com reducionismos, no entanto encontramos passagens sagradas que nos direcionam: “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”; “o amor não busca os seus próprios interesses”, essas são frases que parecem ter um peso quase insuportável, são confronto, um tapa na cara do orgulho que criticamos e cultivamos. Parece até contraditório, mas quem não é? Ele não.
Um mendigo na rua lhe estende a mão na esperança de conseguir alguns trocados. Freqüentemente ele é solidário, mas hoje não trouxe moedas, então ele olha nos olhos do pobre homem e nesses poucos segundos oferece a ele, calado, aquilo que a muito ele não experimentava: dignidade. Como ele pode ser capaz de amar a um desconhecido, em outras situações até mesmo aqueles que consideraríamos seus inimigos? Insanidade? Alguns chegam a acreditar que ele é cândido por natureza, alheio a todos os sentimentos ruins inerentes aos seres-humanos, mas isso não é verdade. Ele é conflito. Uma militância ocorre no seu interior; carne e Espírito numa batalha constante e em meio a toda essa altercação ele desfruta de uma paz que excede a todo entendimento. Essa paz não vem dele, é algo transcendente, resultado de sua comunhão com Deus. O Espírito se fortifica e é assim que ele anda, não é perfeito, mas procura ser.
Ele busca significado em tudo o que faz, não consegue ser tão leviano como a maioria. Exala o perfume de Cristo, para uns cheiro de vida, para outros, morte. A sua presença não passa desapercebida, ela provoca sensações diversas. Existem pessoas que o admiram, há também os que o condenam, alguns medem as palavras quando estão com ele; as piadas, brincadeiras, comentários, tudo passa por um filtro que parece ser composto de respeito e medo. Mas ele não julga ninguém, a não ser a si mesmo. O reconhecimento humano não o alimenta, a aprovação divina é o seu sustento. Se vivesse em outra época, poderia facilmente ter se tornado um dos mártires da igreja primitiva que encontramos nos livros de História. Nesse mundo pós-moderno, ele luta contra os leões do egoísmo. Ele ainda é uma espécime rara em nossos dias, um cristão.
O tempo é ininterrupto, já está quase anoitecendo e ele volta pra casa. Toma um banho quente e o seu canto de louvor ecoa pelo banheiro adornado com azulejos. Mais um dia chega ao fim, mais um dia ele deixa marcas eternas... marcas de Cristo.
“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:3,11)

Hélvio Sodré